(1) Quando eu soube desse fato pelo radio anunciado
(2) Que um tal preto fugido morreu por haver roubado
(3) As façanhas que ele fez me deixou muito amolado
(4) Por alembrar que os pretos sempre são os mais visados
(5) Mas diante da verdade eu vi que estava enganado

(1) Vou contar o causo direito do modo que se passou
(2) Porque o pai de Suzana num criminoso virou
(3) Na hora que deu o tiro foi que a Suzana gritou
(4) Oh papai porque fez isso o senhor nem me consultou
(5) Se eu ainda estou com vida é o preto que me salvou

(1) No mato eu tava lenhando logo pegou escurecer
(2) O caminho que eu voltava eu não podia mais ver
(3) Naquilo avistei o preto de susto peguei tremer
(4) Mocinha não tenha medo escutei ele dizer
(5) Eu sou preto só na cor mal nenhum vou lhe fazer

(1) Eu tava muito cansada o meu corpo não agüentou
(2) Fui sentar debaixo dum toco uma cobra me picou
(3) O preto rancou da faca o meu pé ele sangrou
(4) O veneno da serpente com a boca ele tirou
(5) Pra salvar a minha vida com a morte ele brincou

(1) E aqui nessa cabana ele trouxe eu carregando
(2) E que nem um sentinela na porta ficou vigiando
(3) Lá fora na mata escura as feras tava uivando
(4) Abatido pelo sono coitado foi cochilando
(5) Veio o senhor de surpresa e a vida foi lhe tirando

(1) Com as palavras de Suzana o seu pai pegou chorar
(2) Fosse coisa que eu pudesse de novo a vida eu lhe dar
(3) Com o sangue desse inocente minha honra eu fui manchar
(4) Este chão que ele pisava eu não mereço pisar
(5) Sei que vou ser condenado só Deus pode me livrar