(1) Na Fazenda que eu nasci, vovô era retireiro
(2) Em criança eu aprendi prender o gado leiteiro
(3) Um dia de manhãzinha vejam só que desespero
(4) Tinha um bezerro doente a ordem do fazendeiro
(5) Mate logo esse animal e desinfete o mangueiro
(6) Se essa doença espalhar poderá contaminar
(7) O meu rebanho inteiro

(1) Eu notei que meu avô ficou bastante abatido
(2) Por ter que sacrificar um animal recém nascido
(3) Nas lágrimas dos seus olhos eu entendi seu pedido
(4) Pus o bichinho nos braços levei pra casa escondido
(5) Com ervas e benzimento seu caso foi resolvido
(6) Com carinho eu lhe tratava e o leite que o patrão dava
(7) Com ele era dividido

(1) Quando o fazendeiro soube chamou o meu avozinho
(2) Disse você foi teimoso não matando o bezerrinho
(3) Vai deixar minha fazenda amanhã logo cedinho
(4) Aquilo feriu vovô como uma chaga de espinhos
(5) Mas há sempre alguém no mundo que nos dá algum carinho
(6) e sem grande sacrifício vovô arrumou serviço
(7) Ali num sítio vizinho

(1) Em pouco tempo o bezerro já era um boi erado
(2) Bonito, forte, troncudo, mansinho e muito ensinado
(3) Automóvel do atoleiro ele tirava aos bocado
(4) Por isso na redondeza ficou bastante afamado
(5) Até que um dia anoitinha um homem desesperado
(6) Gritou pedindo socorro, seu carro caiu no morro
(7) Seu filho estava prensado 

(1) O carro da ribanceira o boi conseguiu tirar
(2) O menino estava vivo, seu pai disse a soluçar
(3) Qualquer que seja a quantia esse boi eu vou comprar
(4) Eu disse ele não tem preço a razão vou lhe explicar
(5) A bondade do vovô veio seu filho salvar
(6) Esse nelore valente é o bezerrinho doente
(7) Que o senhor mandou matar.